Pedro Sampaio Minassa

Pedro Sampaio Minassa é brasileiro, graduando (já finalista) em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo e cronista nos tempos livres. É colaborador de diversos portais e jornais, tais como o P3 (Público, Portugal), Portal DUO, Portal do Envehecimento, Crônicas da Editora KBR.

  • A impiedosa lição do Sars-Cov-2

    A impiedosa lição do Sars-Cov-2

    Desde o início da pandemia que pôs o mundo em casa (ou a parte consciente dele), tenho ouvido repetidamente algumas pessoas, comentaristas e até veículos de informação dizerem que o coronavírus é um vírus democrático, por atingir a todos os seres humanos independentemente de suas peculiaridades e circunstâncias (classe social, naturalidade, gênero e etnia). Devo dizer, porém, nestas alturas da pandemia, que não, o coronavírus não é um vírus democrático. Primeiro, porque além de não ser um vírus que atinge a todos indistintamente, vem também se mostrando um aliado no acirramento da política autoritária ao redor do mundo. ler artigo

  • Pela lembrança quase tudo se alcança

    Pela lembrança quase tudo se alcança

    As coisas falam, mesmo que nem sempre estejamos atentos para ouvi-las. Na verdade, elas sussurram, não gritam ou fazem alarde, comunicam-se no silêncio, esperando um ouvido receptivo aos seus sons. Quando digo “coisas”, refiro-me tanto aos objetos, quanto aos lugares. No fundo, todos sabemos que eles falam. O significado das coisas transparece com as lembranças que carregam. Este é o diálogo que estabelecem. O canal comunicativo se dá pelas lembranças. Quando revemos um lugar, aquela imagem se dirige imediatamente ao cérebro e ocorre como se, dos arquivos cognitivos, fosse retirada a ficha de lembranças daquele lugar. ler artigo

  • Filha de Mãe África

    Filha de Mãe África

    Vivemos hoje numa sociedade de hipocrisias com relação à escravidão. Devo dizer que elas andam mascaradas pela ideia de normalidade. Será que evoluímos? Ou continuamos a fazer as mesmas atrocidades disfarçadas de bons costumes? Estamos na era do falso moralismo racial. Os estigmas e estereótipos hodiernos, não se engane, estão também nos objetos que circulam no mercado. Não é preciso entoar palavras racistas, para se afirmar e confirmar a lógica racista. Muitos gestos falam por si e o mercado inoculou o modelo a ser seguido. ler artigo

  • As ruínas narcísicas de Notre-Dame

    As ruínas narcísicas de Notre-Dame

    Por detrás de todo grande templo há sempre uma legião de invisibilizados que se queimaram em prol donde hoje se queimam velas. A Catedral de Notre-Dame, símbolo histórico, cultural, religioso e turístico da França e do mundo ocidental como um todo recentemente entrou em chamas, deixando ao seu redor destroços, fumaça e cheiro de um incenso não querido pelas ruas de Paris. As ruínas de Notre-Dame, no entanto, devem ser motivo de alguma reflexão para a tradição judaico-cristã e porque não, para todos nós. ler artigo

  • Brigar é viver

    Brigar é viver

    A briga nos revela a fraqueza humana, o nosso lado ainda imaturo e em constante desenvolvimento, um verdadeiro engatinhar. Brigar pode ser saudável quando temos a capacidade de autoconhecimento de nossa imperfeição. É preciso buscar compreender o lado pedagógico que as brigas podem ter na nossa vida, se estivermos atentos. Um verso de uma canção brasileira não muito conhecida diz assim: “tem carinho que parece briga, tem briga que aparece para trazer sorriso”... ler artigo

  • Seja eterno enquanto dure pelo tempo que durar

    Seja eterno enquanto dure pelo tempo que durar

    A nossa transitoriedade. O ciclo é igual para todos, alguns o interrompem antes de passarem por todas as fases, mas o modelo é o mesmo desde sempre: início, meio e fim. Nascimento, amadurecimento e falecimento. Nada vai permanecer, pois os estados mudam, a vida e o ser que a ocupa também se modificam todos os dias. É possível existir amor sem vida, da mesma forma que vida sem amor? Se a vida não é eterna e se considerarmos que não exista amor sem vida, como poderemos dizer que o amor é eterno? É simples e complexo ao mesmo tempo. Simples, porque a vida eterna é o resultado de uma vida que eternize o amor, por isso que o amor não é eterno ativamente, senão é eternizável pela vida. E é complexo, porque quando a vida se vai, onde fica o amor, se de fato, é ele quem sobra?... ler artigo

  • Vamos fazer o jogo do contente!

    Vamos fazer o jogo do contente!

    Aqui o sol não indica calor. O frio chega rasgando em dias ensolarados e sem uma nuvem sequer no céu. Não basta olhar para o céu e achar que o dia estará quente, se arrumar em função disso é desengano. As aparências enganam e por isso é preciso, primeiro, olhar a previsão do tempo ou ir ao lugar mais aberto de casa, para perceber se aquele sol é só de enfeite, ou se ele condiz com a nossa situação aqui debaixo. Dizem que o ser humano é um ser incoerente e ingrato, e estou quase certo disso. Se tem muito sol, quer muita chuva, se tem muito frio, quer muito calor, se tem muita praia, quer montanha e se mora na montanha, quer a praia, e por aí vai. De um lado o que se tem, de outro o que se quer ter. E isso, não, não é coisa de idade ou maturidade, pois até o mais velho dos seres humanos convive com o descontentamento, até mesmo com a vida, querendo a morte e que quando ela se aproxima, reclama a vida de novo. ler artigo

  • Quando o coração mingua, a mente agradece

    Quando o coração mingua, a mente agradece

    Como é difícil colocar a razão no comando da nossa existência. Por sua vez, a emoção nos rouba sem sequer percebermos. Cremos equivocadamente que a racionalidade é uma característica da personalidade de cada um, dizemos, então, que uns a tem, outros nem tanto, que uns são mais passionais, outros mais racionais. Tudo falácia! ler artigo

  • A criança e a chuva

    A criança e a chuva

    Saindo da mesma estação de metro como todos os dias desde que cheguei aqui, deparei-me com uma situação diferente, mas não incomum. Ali, do meu lado, uma criança de mais ou menos seis anos saía, no meio da multidão de estudantes, sozinha, com uma mochila nas costas e uma camisa listrada colorida, aquela que quase todos já usaram quando crianças. Lá se ia a pequenina, com seus raros seis anos de experiência de mundo na mochila, pronta a enfrentar a chuva. ler artigo

  • O tempo e o templo

    O tempo e o templo

    A obsolescência de nosso tempo é talvez a grande ameaça às religiões. Em seus altares, ou estas se colocam à frente no tempo, ou sujeitam-se ao templo fechado e fecham-se no tempo perdido para sempre. Com a tecnologia e a modernidade, perdemos a noção de tempus, pois o que outrora era novo torna-se pouco. Agora, se a modernidade é capaz de redimensionar a noção de tempo, não será ela potencialmente capaz de fechar a ideia de templo? ler artigo

  • Um pouco de reverência não faz mal a ninguém

    Um pouco de reverência não faz mal a ninguém

    Reverência não é submissão. Ao contrário, reverência é saber mostrar: respeito, cordialidade e educação. Geralmente, reverenciam-se deuses, reis ou santidades, e por que não reverenciar simplesmente o outro? Sim, um outro indivíduo qualquer? Não digo propriamente abaixar a cabeça ou ajoelhar-se num gesto de imenso respeito. Hoje, a reverência galga outro sentido, o de residir nas coisas mínimas, o que achei por bem denominar de Teoria da Reverência dos Atos Mínimos. ler artigo

  • Solidão é só lição

    Solidão é só lição

    Medo de ficar sozinho, em suas várias concepções, é um sentimento que domina boa parte da humanidade. Existem aqueles que receiam a solidão literalmente, não gostando de ficar em ambientes sem ninguém. Outros, temem estar sozinhos no seu sentido duradouro, uma solidão afetiva para o resto da vida. Independentemente de qual figura de solidão que o leitor se encaixe (ou em nenhuma, por tu seres um ser pretensamente destemido e que estar sozinho não passe de uma alegria), este estado tem uma proposta educativa. ler artigo

  • Verdades, covas ou covardes? O que as chacinas nos ensinam

    Verdades, covas ou covardes? O que as chacinas nos ensinam

    “O fim está próximo!”, já o disseram vários clássicos do cinema. Mas espera: estamos realmente na fronteira ética da humanidade? Do despenhadeiro só se vê escuridão. O fundo não existe. É puro vazio. Nada mais importa, nem mais aquele irmão, mãe ou filho à espera que, algum dia, voltem a bater à porta. Gritam todos agarrando a voz, para que não a percam na rouquidão amarga do aperto. Querem que o tempo volte aos milésimos, para que possam, só uma vez mais, sonhar com o abraço da liberdade e da paz. ler artigo

  • Mundo caduco

    Mundo caduco

    “Um menino chora na noite, atrás da parede, atrás da rua. Longe um menino chora, talvez em outra cidade, talvez em outro mundo. E não há ninguém mais no mundo a não ser esse menino chorando.” Lágrimas que escorrem e se juntam ao mar do desespero dos que buscam refúgio da guerra e que mal sabem que a guerra está por toda a parte. Não há refúgio. Não tem saída. Cada sangue de inocente que infiltra a terra cai no coração do Cosmos, cada criança que morre, é o indicativo do futuro podre que nos espera, fétido mundo. Carcomida história, humanidade que precisa se deteriorar pra criar um húmus humano. ler artigo